Homem Pantaneiro, o Balanço e a sua trajetória I.

 

Pantaneiros

Hoje no dia do aniversário de um pantaneiro muito especial para mim  quero prestar  uma  homenagem.  Após 7 meses da partida do meu velho pai, venho  render uma homenagem,  um homem da nossa gente pantaneira de mato grosso sul, em especial  da classe rural corumbaense, pois contabilizou mais esta perda. A perda de um filho legítimo da região aos 84 anos. Um  típico homem pantaneiro de gestos simples mas tinha uma grande sabedoria herdado  daquela gente pantaneira tão bonita. Ele nasceu,cresceu  e viveu naquela região, se tornou um homem pantaneiro  como poucos e amava as suas raízes.    Registrar aqui um pouco da trajetória da  vida pantaneira do pai não foi fácil para mim devido as lembranças que são muito forte, mas como tenho    imenso carinho pelas minhas raízes resolvi prestar esta última homenagem. Além de me educar, ensinou a conhecer, respeitar e amar o nosso Pantanal e a nossa gente pantaneira rural. Considero o também como um pantaneiro ícone daquela região pantaneira  corumbaense, zona nhecolândia.

Sinto que  tenho esse dever de deixar registrado, um pouco da vida desse pantaneiro para os seus próprios descendentes e aquelas pessoas que desejam conhecer um pouco sobre  um  filho da nossa gente pantaneira corumbaense hospitaleira, próximo as margens do rio taquari. Tenho imenso orgulho de ser filha a mais velha desse pantaneiro. Não vou contar aqui como foi a partida, mas sim como viveu, um resumo da sua trajetória, um balanço, um pouco do seu jeito pantaneiro de ser.

Essa pequena homenagem venho tentando prestar desde junho, mas a emoção, a saudade e as lembranças ainda são muito forte e muito presente. Quando começo a escrever parece que as palavras são tão insignificantes diante desse Pantaneiro, uso a tecla delete várias vezes e recomeço novamente. Finalmente concluo o que muitos já afirmaram que inexistem palavras suficientes boas e adequadas quando se quer homenagear alguém tão querido e que possam ser dignas dela e diante da grandiosa e da simplicidade desse/ homem pantaneiro. O nome do pantaneiro: Leone. Era um dos filhos caçulas de umas das famílias pioneiras do pantanal  corumbaense, Família Espírito Santo, família numerosa, a qual infelizmente não foi catalogada no livro dos Pioneiros do Pantanal(Barros, Abílio Leite de – Editora Senado Federal,2007). Sim era o 14º filho do Sr. Anselmo Benedito, um dos filhos caçulas, porque era gêmeo com o seu irmão Leonir. 

Como era esse pantaneiro: gostava das coisas simples, pecuarista  que  adorava a lida bruta diária do campo e  um vaqueiro como poucos que ensinou muita gente daquela  região a labutar e ser vaqueiro pantaneiro, ou melhor como dizem peão pantaneiro. Gostava correr no seu cavalo atrás de uma rês(gado bovino) e laçar com seu laço comprido traçado de 12 ou 13  braças,  feito de tento (fio) tirado do  couro de uma novilha(o). E como pantaneiro  e  proprietário de pequeno porte  teve aprender um pouco de tudo, além da lida diária do campo,  gostava também de fazer  trabalhos com corda tirada do couro bovino, inclusive o seu próprio cinto. Mas isso não impedia ser  sempre hospitaleiro com as pessoas que chegavam até a sua residência rural.   Gostava também de uma boa prosa pantaneira e de viver junto  à natureza, especialmente  na sua região pantaneira. Quando estava trabalhando naquele sol escaldante do pantanal e tinha sede,  dava uma pausa no trabalho  e bebia um tereré para matar a sede e  hidratar o corpo suado. Afinal um calor  de quase 50ºC, elima muita  água do corpo. 

As lembranças, os fatos narrados por ele mesmo antes de partir, as fotos, alguns vídeos e também documentos antigos me ajudarão a contar  um pouco da sua trajetória desde  o inicio.

  A trajetória da vida desse típico pantaneiro  iniciou nas imediações da   região  banhada pelas águas rio Taquari,  conhecida como  Porto São Benedito,  depois  fixando a sua residência desde gurizinho na Fazenda Panorama junto com os seus pais. 

 

O pai Leone fazia parte de um grupo seleto de pessoas,  os pequenos pecuaristas familiares  que viviam  em  constante solidariedade com seus vizinhos, pois esses vizinhos geralmente eram parentes ou conhecidos de longa data e com isso formavam  uma grande família pantaneira. Essa gente procuram viver em harmonia e adaptar a esse meio ambiente produzindo as vezes até utensílios e materiais simples  que servem para a sua sobrevivência e o seu desenvolvimento como laço o cinto feito do couro bovino. Pequenos e médios produtores que produzem e retiram da natureza apenas o necessário a sua sobrevivência, respeitando e zelando pelo seu pantanal. 

O nosso pantanal possui os dois extremos. Quando das cheias do pantanal, os alagados, corixos e formosas baías, essa gente linda pantaneira convive com o mesmo drama dos ribeirinhos da beira de rio   e por isso poderia ser também chamado de ribeirinhos pantaneiros. Quando da seca do pantanal, aí vem a necessidade de buscar  água  que está dentro do solo e fazer poços  artesianos ou semi.  Essa gente pantaneira que vive nessa região deve ser mais valorizada.

Na nossa região a flora ainda é muita rica e diversificada que estão além das águas dos rios do pantanal e dos animais silvestres pantaneiros, cuja vegetação também merecem ser preservadas. A bonitas cordilheiras pantaneiras com o seu Acorizal, as árvores frondosas como o pé da piúva(ipê) com suas flores rosa,  amarela, branca ou roxo  se sobressaindo entre os demais, o guanandi, o jatobeiro, o tarumeiro, o novatá, o açoita cavalo, o marmeleiro, o acaiá, o pé de genipapo, o pé de araçá e outras árvores que agora esqueci de relatar, sem contar a vegetação rasteira com as suas  lindas  flores. E nesse cenário lindo que ainda existe também o homem pantaneiro e a mulher pantaneira que   deve ser valorizado como tal e não esquecidos ou excluídos pois  cuidaram e preservaram esse  pantanal.
  É nesse habitat e cenário  que o pai  Leone gostava de viver,  dizia sempre quando estava na cidade para qualquer um quando lhe perguntavam pelo dono da casa ou onde ele residia, ele sempre respondia:
  - eu só paro aqui, a minha residência fica mesmo na fazenda, Fazenda Panorama, na região da Nhecolândia de Corumbá.
  Uma grande realidade, pois na cidade ficava apenas o necessário, pois sentia como pássaro preso na gaiola. Afinal era um simples pantaneiro que era o retrato daquela sua região pantaneira. Só nos últimos dois anos que já ficava mais na cidade, pelo menos o tempo das cheias do pantanal.
A sua residência rural,  Fazenda Panorama. Procurou conservar o básico da benfeitoria da sede, equipamentos e utensílios que vieram de outras gerações da sua família, como um tacho de  200 litros de ferver a garapa(caldo da cana) para fazer o melado, a rapadura e o engenho muito antigo.

Pantaneiro - caldo de cana, melado e rapadura

Preservar o pantanal significa também incluir, cuidar, respeitar e zelar do homem e da mulher pantaneira. Isso significa incluí-los nos diversos sistemas tais como sócio político, econômico e financeiro, inclusive  também incluí-los nas linhas de comunicação e não como fazem atualmente no sistema de telefonia, excluí-los, enquanto não funciona a linha digital. Digo isso, conheço a dificuldade  da telefonia daqueles pantaneiros, o sinal da operadora vivo dessa região funciona precariamente no sistema analógico, TDMA ou CDMA, porque tem um mandato de segurança. Mas se os aparelhos estragam não possuem outros novos no mercado, a tendência é ficar a partir de  2012 excluído das linhas de telefonia, pois os aparelhos usados com preços elevados no futuro vão acabar. Enquanto a linha telefonica digital não funcionar a nossa  gente pantaneira fica prejudicada pela falta de comunicação.

		Pantaneiros

E nessa região tem gente pantaneira de raiz como o pai Leone.  Mas  onde  nasceu esse homem pantaneiro e tão querido ?
Veja  na postagem seguinte.